Caro amigo interlocutor,
É um prazer e uma alegria estar com você!
Na postagem de hoje, explanarei um pouco sobre um tema que é
abordado parcialmente enquanto estamos na escola, e que é de grande importância
para toda a vida, visto que se relaciona diretamente com as construções textuais:
a coesão e a coerência.
Quando abordamos o tema dos fatores da textualidade, falei
rapidamente sobre o tema, por meio de uma comparação: se pensássemos em um
campo de futebol, classificaríamos a coesão como sendo os jogadores; ou seja, a
estrutura de ideias; a conexão entre o todo, e a coerência como sendo o estádio
em si, algo global; a totalidade de sentido. Ainda de forma didática, pode-se
pensar na coesão como sendo a estrutura de conexão entre frases através de determinados
recursos linguísticos, de modo proporcionar uma harmonia entre elas, bem como
uma sequência lógica ao texto. Esta sequência lógica é a própria coerência.
Por isso, alguns acabam confundindo suas funções e
denominações, ou até mesmo considerando como sendo iguais, com a mesma
finalidade dentro do texto, mas não é bem por aí. Existe tal diferença,
conforme explicado acima.
Como
já citados anteriormente, os recursos linguísticos são palavras necessárias
para trazer a coesão ao texto, podendo indicar ideia de: argumentação,
conclusão, concessão, adversidade, constatação, explicação etc. Cabe ao autor
do texto saber o momento certo de utilizar tais conectivos, dependendo do
contexto e o assunto em questão, de modo aprimorar a construção textual e
manter uma linguagem polida e diferenciada, para enriquecer o texto.
Portanto, para que ocorra a coesão, existem alguns fatores
que devem ser seguidos para a boa formação de uma sucessão lógica do texto:
- Ordem de palavras (estruturar o texto numa sequência de ideias)
Ex: Cinema ao fui eu X Eu
fui ao cinema ✓
- Concordância entre palavras (Gênero, número, grau, escolha lexical, pontuação)
- Estabelecer relações entre as frases e entre os parágrafos, por meio dos conectivos
Ex: Ele estava encarregado, sobretudo de
dois assuntos (ÊNFASE, CERTEZA)
O
aquecimento global tem gerado graves problemas ambientais, da mesma forma, a poluição tem causados sérios problemas de saúde a
população urbana. (COMPARAÇÃO, SEMELHANÇA)
- Revisão do texto, sob três aspectos
a)
Apresentação
da ideia;
b)
argumentação,
explicação, exemplificação;
c)
conclusão.
Contudo,
é importante ressaltar que um texto precisa ser sempre inteligível, ou seja,
precisa ser coerente para ser compreendido, mas não precisa, necessariamente,
ser coeso ou repleto de conectivos. Observe o exemplo abaixo:
Menino venha pra dentro, olhe o sereno! Vá lavar
essa mão. Já escovou os dentes? Tome a bênção a seu pai. Já pra cama!
Onde é que aprendeu isso, menino? Coisa mais
feia. Tome modos. Hoje você fica sem sobremesa. Onde é que você estava? Agora
chega, menino, tenha santa paciência.
De quem você gosta mais, do papai ou da mamãe?
Isso, assim que eu gosto: menino educado, obediente. Está vendo? É só a gente
falar. Desça daí, menino! Me prega cada susto... Pare com isso! Jogue isso
fora. Uma boa surra dava jeito nisso. Que é que você andou arranjando? Quem
lhe ensinou esses modos? Passe pra dentro. Isso não é gente para ficar
andando com você.
Avise a seu pai que o jantar está na mesa. Você
prometeu, tem de cumprir. Que é que você vai ser quando crescer? Não, chega:
você já repetiu duas vezes. Por que você está quieto aí? Alguma você está
tramando... Não ande descalço, já disse! Vá calçar o sapato. Já tomou o
remédio? Tem de comer tudo: você acaba virando um palito. Quantas vezes já
lhe disse para não mexer aqui? Esse barulho, menino! Seu pai está dormindo.
Pare com essa correria dentro de casa, vá brincar lá fora. Você vai acabar
caindo daí. Peça licença a seu pai primeiro. Isso é maneira de responder a
sua irmã? Se não fizer, fica de castigo. Segure o garfo direito. Ponha a
camisa pra dentro da calça. Fica perguntando, tudo você quer saber! Isso é
conversa de gente grande. Depois eu dou. Depois eu deixo. Depois eu levo.
Depois eu conto.
Agora deixa seu pai descansar - ele está cansado,
trabalhou o dia todo. Você precisa ser muito bonzinho com ele, meu filho. Ele
gosta tanto de você. Tudo que ele faz é para o seu bem. Olhe aí, vestiu essa
roupa agorinha mesmo, já está toda suja. Fez seus deveres? Você vai chegar
atrasado. Chora não, filhinho, mamãe está aqui com você. Nosso Senhor não vai
deixar doer mais.
Quando você for grande, você também vai poder. Já
disse que não, e não, e não! Ah, é assim? Pois você vai ver só quando seu pai
chegar. Não fale de boca cheia. Junte a comida no meio do prato. Por causa
disso é preciso gritar? Seja homem. Você ainda é muito pequeno para saber
essas coisas. Mamãe tem muito orgulho de você. Cale essa boca! Você precisa
cortar esse cabelo.
Sorvete não pode, você está resfriado. Não sei
como você tem coragem de fazer assim com sua mãe. Se você comer agora, depois
não janta. Assim você se machuca. Deixa de fita. Um menino desse tamanho, que
é que os outros hão de dizer? Você queria que fizessem o mesmo com você?
Continua assim que eu lhe dou umas palmadas. Pensa que a gente tem dinheiro para
jogar fora? Tome juízo, menino.
Ganhou agora mesmo e já acabou de quebrar. Que é
que você vai querer no dia de seus anos? Agora não, que eu tenho o que fazer.
Não fique triste não, depois mamãe dá outro. Você teve saudades de mim? Vou
contar só mais uma, que está na hora de dormir. Agora dorme, filhinho. Dê um
beijo aqui - Papai do Céu lhe abençoe. Este menino, meu Deus...
Menino, de Fernando Sabino.
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Você deve ter observado que o texto de Fernando Sabino é um
exemplo de texto coerente, mas sem coesão. Há várias frases soltas, sem
elementos que as conectem, mas ainda assim é um texto perfeitamente
compreensível. Isso acontece porque a coesão não é condição necessária nem
suficiente da coerência, pois a coerência não está no texto, mas sim nos
sentidos construídos pelo leitor.
Caso queira, faça suas considerações pelos comentários.
Agradeço pela atenção!
Até a próxima! #ContextualizandoLP