sábado, 30 de abril de 2016

Coesão e coerência: nuances que realçam a beleza do texto

Caro amigo interlocutor,

É um prazer e uma alegria estar com você!

Na postagem de hoje, explanarei um pouco sobre um tema que é abordado parcialmente enquanto estamos na escola, e que é de grande importância para toda a vida, visto que se relaciona diretamente com as construções textuais: a coesão e a coerência.

Quando abordamos o tema dos fatores da textualidade, falei rapidamente sobre o tema, por meio de uma comparação: se pensássemos em um campo de futebol, classificaríamos a coesão como sendo os jogadores; ou seja, a estrutura de ideias; a conexão entre o todo, e a coerência como sendo o estádio em si, algo global; a totalidade de sentido. Ainda de forma didática, pode-se pensar na coesão como sendo a estrutura de conexão entre frases através de determinados recursos linguísticos, de modo proporcionar uma harmonia entre elas, bem como uma sequência lógica ao texto. Esta sequência lógica é a própria coerência.

Por isso, alguns acabam confundindo suas funções e denominações, ou até mesmo considerando como sendo iguais, com a mesma finalidade dentro do texto, mas não é bem por aí. Existe tal diferença, conforme explicado acima.



Como já citados anteriormente, os recursos linguísticos são palavras necessárias para trazer a coesão ao texto, podendo indicar ideia de: argumentação, conclusão, concessão, adversidade, constatação, explicação etc. Cabe ao autor do texto saber o momento certo de utilizar tais conectivos, dependendo do contexto e o assunto em questão, de modo aprimorar a construção textual e manter uma linguagem polida e diferenciada, para enriquecer o texto.

Portanto, para que ocorra a coesão, existem alguns fatores que devem ser seguidos para a boa formação de uma sucessão lógica do texto:

  •          Ordem de palavras (estruturar o texto numa sequência de ideias)

          Ex: Cinema ao fui eu  X                 Eu fui ao cinema
  •       Concordância entre palavras (Gênero, número, grau, escolha lexical, pontuação)
  •         Estabelecer relações entre as frases e entre os parágrafos, por meio dos conectivos

          Ex: Ele estava encarregado, sobretudo de dois assuntos (ÊNFASE, CERTEZA)

               O aquecimento global tem gerado graves problemas ambientais, da mesma forma, a poluição tem causados sérios problemas de saúde a população urbana. (COMPARAÇÃO, SEMELHANÇA)

  •          Revisão do texto, sob três aspectos

a)      Apresentação da ideia;
b)      argumentação, explicação, exemplificação;
c)      conclusão.


Contudo, é importante ressaltar que um texto precisa ser sempre inteligível, ou seja, precisa ser coerente para ser compreendido, mas não precisa, necessariamente, ser coeso ou repleto de conectivos. Observe o exemplo abaixo:
Menino venha pra dentro, olhe o sereno! Vá lavar essa mão. Já escovou os dentes? Tome a bênção a seu pai. Já pra cama!
Onde é que aprendeu isso, menino? Coisa mais feia. Tome modos. Hoje você fica sem sobremesa. Onde é que você estava? Agora chega, menino, tenha santa paciência.
De quem você gosta mais, do papai ou da mamãe? Isso, assim que eu gosto: menino educado, obediente. Está vendo? É só a gente falar. Desça daí, menino! Me prega cada susto... Pare com isso! Jogue isso fora. Uma boa surra dava jeito nisso. Que é que você andou arranjando? Quem lhe ensinou esses modos? Passe pra dentro. Isso não é gente para ficar andando com você.
Avise a seu pai que o jantar está na mesa. Você prometeu, tem de cumprir. Que é que você vai ser quando crescer? Não, chega: você já repetiu duas vezes. Por que você está quieto aí? Alguma você está tramando... Não ande descalço, já disse! Vá calçar o sapato. Já tomou o remédio? Tem de comer tudo: você acaba virando um palito. Quantas vezes já lhe disse para não mexer aqui? Esse barulho, menino! Seu pai está dormindo. Pare com essa correria dentro de casa, vá brincar lá fora. Você vai acabar caindo daí. Peça licença a seu pai primeiro. Isso é maneira de responder a sua irmã? Se não fizer, fica de castigo. Segure o garfo direito. Ponha a camisa pra dentro da calça. Fica perguntando, tudo você quer saber! Isso é conversa de gente grande. Depois eu dou. Depois eu deixo. Depois eu levo. Depois eu conto.
Agora deixa seu pai descansar - ele está cansado, trabalhou o dia todo. Você precisa ser muito bonzinho com ele, meu filho. Ele gosta tanto de você. Tudo que ele faz é para o seu bem. Olhe aí, vestiu essa roupa agorinha mesmo, já está toda suja. Fez seus deveres? Você vai chegar atrasado. Chora não, filhinho, mamãe está aqui com você. Nosso Senhor não vai deixar doer mais.
Quando você for grande, você também vai poder. Já disse que não, e não, e não! Ah, é assim? Pois você vai ver só quando seu pai chegar. Não fale de boca cheia. Junte a comida no meio do prato. Por causa disso é preciso gritar? Seja homem. Você ainda é muito pequeno para saber essas coisas. Mamãe tem muito orgulho de você. Cale essa boca! Você precisa cortar esse cabelo.
Sorvete não pode, você está resfriado. Não sei como você tem coragem de fazer assim com sua mãe. Se você comer agora, depois não janta. Assim você se machuca. Deixa de fita. Um menino desse tamanho, que é que os outros hão de dizer? Você queria que fizessem o mesmo com você? Continua assim que eu lhe dou umas palmadas. Pensa que a gente tem dinheiro para jogar fora? Tome juízo, menino.
Ganhou agora mesmo e já acabou de quebrar. Que é que você vai querer no dia de seus anos? Agora não, que eu tenho o que fazer. Não fique triste não, depois mamãe dá outro. Você teve saudades de mim? Vou contar só mais uma, que está na hora de dormir. Agora dorme, filhinho. Dê um beijo aqui - Papai do Céu lhe abençoe. Este menino, meu Deus...
Menino, de Fernando Sabino.


Você deve ter observado que o texto de Fernando Sabino é um exemplo de texto coerente, mas sem coesão. Há várias frases soltas, sem elementos que as conectem, mas ainda assim é um texto perfeitamente compreensível. Isso acontece porque a coesão não é condição necessária nem suficiente da coerência, pois a coerência não está no texto, mas sim nos sentidos construídos pelo leitor.

Caso queira, faça suas considerações pelos comentários.
Agradeço pela atenção!
Até a próxima! #ContextualizandoLP

terça-feira, 5 de abril de 2016

Teoria da Semiótica Greimasiana

                    

Caro amigo interlocutor,

É um prazer e uma alegria estar com você!

Hoje, quero trazer um tema muito cativante e intrigante, que está presente no nosso dia a dia, sempre intrínseco ao discurso: A Teoria da Semiótica Greimasiana. Mas, antes de nos aprofundarmos neste modelo, quero ressaltar que é substancial entender que o objeto de estudo da semiótica não são os signos em si, mas sim os sistemas semióticos, uma vez que o conceito da semiótica é tido como a teoria da significação.

Algirdas Julien Greimas (1917-1992) foi um famoso linguísta francês, que colaborou eficazmente para o estudo da linguística, fundando a Escola de Semiótica de Paris. Greimas ficou bastante conhecido pelo seu modelo de semiótica da narratividade, que se baseia no estudo do discurso com base na ideia de que esta estrutura se manifesta em qualquer tipo de texto.

Explicando de uma maneira simples, trata-se de uma inter-relação entre sujeitos numa narrativa, que se dá por eixos diferentes – do querer, do dever, do saber e do poder – essa relação se dará através de um acordo, como uma assinatura de “contrato de prestação de serviços” onde cada parte se obriga a cumprir com suas funções.

O sujeito destinador – doravante denominado S1 – é quem manipula um segundo sujeito – doravante denominado S2 – motivando-o a realizar uma ação, de modo atingir o objetivo do S1, que é o seu objeto de valor (não necessariamente um objeto material). Essa manipulação se dá por meios distintos, podendo ser uma sedução, uma intimidação, uma provocação ou uma tentação.

Supondo que em uma determinada situação, um professor queira muito que um aluno se esforce para ter um bom desempenho em sua avaliação. Portanto este professor, conhecedor da personalidade e interesses de seu aluno, pode seduzi-lo com palavras doces, enaltecendo suas boas características (sedução); mas também pode obrigá-lo a estudar, ameaçando-o de deixar de recuperação ou até reprová-lo caso obtenha resultados insatisfatórios (intimidação); também pode de certa forma afrontá-lo e desafiá-lo, duvidando do seu potencial para que o aluno se sinta motivado a realmente provar o contrário (provocação); ou ainda o professor faz um acordo com o aluno, prometendo-lhe algum objeto de valor material caso consiga ir bem nesta avaliação – um chocolate, uma caneta nova, etc – este último tipo de manipulação é tido como tentação.

Após a manipulação, temos a fase em que o S2 recebe um saber e um poder para executar a ação designada pelo S1, a execução desta ação, e a finalização, onde ambos os sujeitos recebem um castigo ou uma recompensa, por assim dizer, a última fase em que se apresentam os resultados de tal ação, podendo ser positivos ou negativos. Tais fatores são denominados respectivamente: competência, performance e sanção.

Para melhor entendimento, prosseguirei com o exemplo do professor e do aluno, onde aquele além de motivar este a esforçar-se para a prova, provê uma competência para o aluno: dá aulas, explicações dos conceitos, revisa o conteúdo por meio de exercícios, etc. E então, o aluno (S2) faz a performance, realizando a avaliação. Após isto, ocorre a sanção, podendo ser positiva ou negativa, pois não se tem certeza absoluta acerca do desempenho do aluno.

Cabe lembrar que ambos os sujeitos (S1 e S2) não necessariamente são individuais (podem ser coletivos) e também podem ser tanto seres inanimados quanto animados.

Caso queira, faça suas considerações pelos comentários.
Agradeço pela atenção!
Até a próxima! #ContextualizandoLP

domingo, 3 de abril de 2016

Contextualizando os fatores da textualidade

Caro amigo interlocutor,

É um prazer e uma alegria estar com você!

Hoje, convido-lhe para falar de um assunto fascinante! Um entre os infinitos dentro do nosso tão querido idioma: “Os fatores da textualidade”


Caso você não saiba, gostaria de informá-lo previamente que os registros linguísticos não se dão apenas através deste modo de comunicação que estamos realizando. Ou seja, quando falo de texto não devo considerar apenas o texto escrito, visto que em nosso cotidiano estamos decodificando diversas mensagens – verbais e não verbais – e estas podem ser consideradas como textos.

Em suma, portanto, a palavra texto pode ser definida como uma unidade de linguagem em uso, cumprindo uma função sociocomunicativa.

Dentro disso, é possível ampliar nossa visão a partir do que entendemos como texto. Mas, dentro da análise textual, pode-se destacar alguns fatores essenciais para a melhor compreensão de um texto. Os dois primeiros são a coesão e a coerência (fatores linguísticos). Didaticamente falando, podemos designar a coesão como sendo a estrutura das palavras e frases, de modo haver harmonia entre elas, e a coerência é o texto como um todo; o “costurar” das frases e ideias, formando o texto. Fazendo uma analogia, seria como um campo de futebol: a coerência é o estádio em si, e a coesão são os jogadores; os elementos que compõem toda a estrutura de ideias.

Além deste, existem os fatores pragmáticos do texto, que são:    
  •          Intencionalidade
  •      Aceitabilidade
  •      Informatividade
  •      Intertexualidade
  •      Situacionalidade

O fator “intencionalidade” trata, como o próprio nome diz, das ideias e pensamentos do autor ao escrever o texto. “Quais são suas intenções?” “Qual foi a ideia central em mente na elaboração de tal texto?” “O que ele deseja transmitir ao leitor?”. Essas são algumas  questões-chave que podem ser feitas para melhor interpretação. Sobretudo, os recursos que ele utilizou para sua construção textual, com a finalidade de convencer, entreter, emocionar, informar, etc.

A aceitabilidade compreende o “recebimento” do texto por parte do leitor, não no sentido de aprovação ou reprovação, mas sim de captar a mensagem, os pressupostos e os juízos de valor inseridos no texto pelo autor, porém de certa forma intrínsecos no texto.

No fator informatividade, considera-se o equilíbrio entre informações previsíveis e imprevisíveis no texto. Como exemplo, podemos pensar no Romantismo, os diversos romances europeus em forma de folhetins do século XIX, onde havia praticamente um roteiro de acontecimentos – início da história, conflito e superação – e geralmente os mesmos personagens, entre os “mocinhos” e “heróis”. Para reverter este quadro, o autor deve saber incrementar os dois elementos, de modo que haja interesse por parte do leitor.

A intertextualidade pode ser tida como uma “conversa” entre textos, ou seja, utilizar-se de outros textos dentro de um texto, de modo reforçar argumentos, estruturar ideias, ilustrar alguns fatos, ou apenas enriquecer e acrescentar atributos ao texto. Na postagem anterior, há um vídeo explicativo sobre esse tema muito bem elaborado pelo Professor Pasquale.

E por ultimo, a situacionalidade, que aborda a pertinência, relevância, contexto e adequação da informação contida no texto, por isso, este fator orienta tanto a produção quanto a recepção da construção textual.

Para você, professor, sugiro que ao lecionar uma aula sobre este assunto utilize um texto que seja cativante, intrigante, de modo despertar o interesse dos alunos. Como forma de fixação do conteúdo, você pode pedir que façam uma análise sobre o texto apresentado. Um exemplo básico, podendo ser uma crônica curta, ou as tradicionais fábulas, que ensinam juízos de valor. Mais tarde, você também pode solicitar que eles escrevam seu próprio texto, considerando todos os fatores da textualidade. Como sugestão, apresento a fábula da Lebre e da Tartaruga: 

"Um dia, uma Lebre ridicularizou as pernas curtas e a lentidão da Tartaruga. A Tartaruga sorriu e disse: "Pensa você ser rápida como o vento; Mas, acredito que Eu a venceria numa corrida."
A Lebre claro, considerou aquela insinuação como algo impossível de acontecer, e aceitou o desafio na hora.
Convidaram então a Raposa para servir de juiz, escolher o trajeto, e o ponto de chegada.
E no dia marcado, do ponto inicial, partiram juntos.
A Tartaruga, com seu passo lento, mas firme, determinada, concentrada, em momento algum, parou de caminhar rumo ao seu objetivo.
Mas a Lebre, confiante de sua velocidade, despreocupada com a corrida, deitou à margem da estrada para um rápido cochilo.
Ao despertar, embora corresse o mais rápido que suas pernas o permitissem, não mais conseguiu alcançar a Tartaruga, que já cruzara a linha de chegada, e agora descansava tranquila num canto."

Moral da História:

Ao trabalhador que realiza seu trabalho com zelo e persistência, o êxito é inevitável...

Caso queira, faça suas considerações pelos comentários.
Agradeço pela atenção!
Até a próxima! #ContextualizandoLP

A intertextualidade

Caro amigo interlocutor,

É um prazer e uma alegria estar com você!

Nesta primeira postagem, quero compartilhar um vídeo curto, porém riquíssimo em informações importantes a respeito de um conceito imprescindível: A Intertextualidade.

Peço que assista com muita atenção, e, caso queira, faça suas considerações nos comentários.

Mais tarde farei uma nova postagem, e este vídeo servirá como complemento para enriquecê-la e embasá-la.

Aproveite!

A intertextualidade - Professor Pasquale